terça-feira, 1 de outubro de 2019

Raquel aos olhos de Sara

                   Quando vejo um casal juntos a muito tempo, pergunto logo como eles se conheceram, na maioria das vezes escuto algo mágico e com algum tipo de sincronia cósmica, o mesmo me vem quando vejo amigos que já se relacionam de longas datas, também me passa na cabeça saber como eles se conheceram, e se, também, rolou algo mágico e algum tipo de sincronia cósmica. 
                     Lembro bem o dia em que conheci Raquel: estávamos chegando ao novo point da cidade, ela era a nova namorada de um velho amigo meu e sócio do lugar (lugar este que cabe numa postagem só para ele) e de cara começamos um papo que até hoje não conseguimos terminar, rolou um grande fascínio da minha parte pelo universo ao qual ela pertencia, o universo dos blogs, lembro quando ela me falou do Garotas Lexotan e eu na minha ingênua sonolência sem fim, perguntei o que era Lexotan e ela atônita me questionou se eu nunca tinha tomado remédio para dormir e eu, passados tantos anos, ainda não senti necessidades, graças à Deus, então comecei a ouvi-la falar de seus amores com  tanta intensidade, com tanta entrega, que sua vida, suas atitudes passavam a ser dirigidas pelo piloto automático, tudo passava a se justificar, devido ao tamanho da paixão, aquilo tudo me soava muito louco, afinal, até aquele momentos pra mim as paixões eram distrações para as horas de laser e tinham lugares específicos que não poderiam ser confundidos e atrapalharem minha rotina.
               A verdade é que, de cara, já viramos melhores amigas, identificamos as diferenças e nos apaixonamos por elas, ela me convidou para escrever no blogger Mulé Pré-Balzaca com mais duas amigas do Recife e cada qual no seu estilo e representadas por figuras dos quadros de Gustav Klint fazíamos o maior sucesso, como era maravilhoso compartilhar as delicias e dores do dia-a-dia naquele canal. Eu vivia apaixonada nas horas vagas e cumpria mil tarefas em busca do meu lugar ao sol e acompanhava as paixões de Raquel cada vez mais intensas e cada vez mais expostas na internet, amávamos os mesmos livros, mesmos filmes e em algum momento o mesmo homem, e devido a lealdade feminina só fiquei com ele quando tive a permissão dela, que já morria de amores por um artista plástico pra lá de interessante e na paixão seguinte ela larga tudo e vai embora da cidade. 
              Meus amores continuavam acontecendo nos finais de semanas, as vezes numa quarta ou numa quinta mas continuavam nos seus devidos lugares, enquanto eu inventava cursos e tentava me manter firme em constituir um patrimônio. 
               Os fins de semanas eram intensos, reclamávamos o tempo todo e com o tempo íamos vendo o quanto éramos felizes e não sabíamos....
                    As coisas complicaram pra Raquel os planos não saíram como planejado e Raquel volta para João Pessoa resgatada por seu antigo algoz, foram anos de dor e mantínhamos viva a amizade, compartilhávamos as diferenças e fazíamos a diferença. 
               Polêmicas, alegres, cheias de esperanças em um futuro melhor, em amores melhores nos mantivemos por perto,  tínhamos vidas pacatas e uma busca incessante por conhecer a absorver o mundo, fizemos teatro juntas e brigamos muito, ela voltou a viver com o ex-marido, que eu não me entendia bem, mas ela fazia questão de me manter por perto, depois separa, eu caso, com um cara que ela não se dava muito bem, mas eu fiz questão de mantê-la por perto. 
                      E mais uma vez, desta vez de maneira bem madura e consciente ela se apaixona, se enamora, compartilha a vida com um cara da Internet que vive do outro lado do  País, separa, volta e mais uma vez vai embora da cidade, viver um grande amor, hoje sou sua visita constante, continuamos fazendo questão de participar da vida uma da outra, ela sabe dos meus amores e, continua dizendo que não é romântica, o que sempre me faz ri. E ela é a única pessoa que não ri quando digo que sou romântica, kkkk. 
                          Amadurecemos juntas, em tempos bem diferentes, de maneiras bem distintas, tomamos rumos diferentes mas continuamos vivendo esta amizade como no dia em que nos conhecemos, o papo que iniciamos há 16 anos atrás ainda rende madrugadas a dentro, com boas comidas e boas bebidas, viramos até sócia num empreendimento que tenho a alguns anos e que me leva até sua casa do outro lado do País, falamos já na velhice e de criar uma rede de apoio para o futuro que já chegou e ainda reserva tantas surpresas .

03/04/2024 às 23:56

 Entrei no tunel do tempo literalmente, daqui a três minutos será um outro dia e estou eu aqui, com a pia cheia de pratos sujos, as compras ...