FUTUROS AMANTES
CHICO BUARQUE
Não se afobe, não
Necessidade de chegar mais perto, de desvendar segredos, de devastar intimidades, de tocar a pele, de sentir odores, de invadir outras vidas...
FUTUROS AMANTES
CHICO BUARQUE
Não se afobe, não
Detesto menstruar e acredito que de todas as condições que nós impõe como condição de ser mulher, esta é a pior.
Hoje consigo analisar a Sara menina, adoslescente, adulta, coroa como personagens que compõem a mulher que sou hoje, posso até me assistir como em um filme, a criança que menstruou aos 11 anos de idade, antes da irmã mais velha e das primas mais velhas, arrodeada de amiguinhas que mal começavam a desenvolver e os meus seios já chegavam sem pedir licença, foi bem traumatizante, os inchaços, TPM, comentários e tudo aquilo tão desagradável, sem falar daquele rio de sangue que escorria entre as pernas sem nenhum controle, sem pedir licença e saia sujando tudo.
Antes, durante, dias intermináveis.
Antes: a displásia mámaria, dois quilos a mais, angústia, uma panela prestes a explodir, irritação.
Durante: seis dias de muito fluxo, odores fortes, cólicas fortes e os maiores modess que tinham no mercado pra conter aquela vazão, não era lindo, não.
A lua, a mulher, a natureza, o sagrado feminino nada me convencia.
Então, se fosse necessário me desconectar com meu sagrado feminimo, pra acabar com aqueles eternos dias de desconforto e nenhuma vontade de engravidar, tudo bem, viva a ciência, os anteconcepcionais, o DIU e qualquer coisa que parasse com aquilo.
Talvez a criança que se sentia rejeitada pela mãe, encarnações anteriores, carmas mal resolvidos, falta de amor entre meus pais, ausência de amores seguros e que me permitissem romantizar, sei lá, a única certeza que tinha é que não me fazia falta alguma menstruar e ter filhos não era uma vontade que me acompanhava.
Medo da solidão no futuro? Sim, tenho.
Medo de criar e educar filhos? Não.
Vontade? Nenhuma.
Meu eu mulher negligenciado ou desrespeitado? Talvez o tempo responda.
Hoje sei o quanto vivi na ferida da rejeição, fugindo de tudo que pudesse me causar dor e grandes sofrimentos, processos mentais tão fortes e intrínsecos quanto respirar,
O que me define como mulher feminina, sagrada, conectada com a natureza e com meu eu mais íntimo?
São tantos traumas, crenças limitantes, desejos frustrados, tantos lugares que não me cabiam e até hoje não cabem, caixinha que me enquadram, e o tempo que escorre entre as mãos, e, uma vida só pra resolver todas estas questões.
Talvez não me cabia resolver ou aceitar, preciso vivenciar coisas que minha alma feminina almeja, desejar sem medos ou enquadramentos, livre das crenças e traumas, deixando os desejos, os amores, a maternidade, a paternidade que existam em mim se manifestarem.
Sempre foi sobre nosso potencial criativo, que só se realiza na desconstrução de tantos padrões que só limitam e frustram.
De lá pra cá a escrita tem sido um suspiro de vida e esperança em mim, a esperança de aprender a amar, a vontade gigante de ser melhor e ser mais, de escutar minha alma nas suas mais profundas inquietações e transformá-las em arte.
Tomada pela sensibilidade na construção dos personagens revivi meus amores esquecidos, meus arquivos sentimentais, a lembrança daquela menina que brigava com moinhos de ventos pra não ser atropelada pelas paixões desenfreadas, que chegavam sem aviso prévio.
Este é o poder da arte, o de nós arrastar nas suas correntezas, de nos lembrar o quanto somos falhos, pequenos, egoístas e mesquinho quando tratamos do amor da carne, da posse, do desejo. Querer e ser querido, desejar ser desejado para além de tudo que já somos e temos, na esperança desenfreada de ser mais, de ser feliz apesar de tudo.
Carla nos lembra que o amor não nos protege, não tem fim por si só e como tudo na vida tem seu lado bom e ruim, sagrado e pecador e são poucos os que pagam o preço pra vivé-lo.
Entrei no tunel do tempo literalmente, daqui a três minutos será um outro dia e estou eu aqui, com a pia cheia de pratos sujos, as compras desnecessárias jogadas na mesa da sala, enquanto eu tento trabalhar, assistir novamente a série da HBO, SEX AND CITY e não tiro meu ex de 2006 da cabeça, depois de ter cedido aos 18 anos de resistência aos seus apelos, e acreditem, foi incrível como nos velhos tempos.
Vamos por parte: Incrível como a série Sex and City consegue ser tão atual e falar tão diretamente sobre meus dilemas e dramas de mulher solteira a procura. Mulheres lindas, ricas, que vivem em Nova York, escritora, advogada, marchant, promotora de eventos que se envolvem em tantas roubadas amorosas, como qualquer outra mulher do mundo, acho eu que na China ou no Paquistão, role estas mesmas merdas. Vou me ater a falar sobre uma garota de origem humilde, do interior da Paraíba, que depois de muitos perrengues vai morar na Capital, conseguiu melhorar seu padrão financeiro e físico, estudou, se cuidou, viajou, e como as garotas da TV se meteu em trilhões de roubadas.
É, elas são culpadas pelas suas vidas amorosas fracassadas, com homens fracos, neuróticos e perebentos como bem classifica a querida e sábia Valeska Zanello, no seu livro a Prateleira do Amor, é, realmente, uma procura insana, louca e que precisamos contar com sorte, destino e todo nosso conhecimento zodiacal, e acredito que seja a melhor opção, não consigo nem imaginar "por enquanto" de desistir deste sonho maluco de encontrar um homem pra amar, viajar e dividir as contas do mês.
Somos culpadas por repetir padrões milenares de idealizações fudidas de amor? Somos culpadas por esta biologia maluca, que faz com que carreguemos no meio das pernas uma bomba nuclear que explode cada vez que nos apaixonamos ou sentimos tesão, ou sei lá, quando estamos carentes? Somos culpadas se todos as coisas no mundo nos reportam a uma cena romantica onde encontraremos alguém legal e viajaremos o mundo, e ele estará ao nosso lado pra vê a cada mês a lua crescente de frente ao mar, e que nos surpreenderá com mimos e presentes que vão lembrar o quanto somos especiais, não dá pra fugir, as mensagens estão por todos os lugares, todos.
Sim, repetimos padrões, por isto falei da minha casa neste momento, que já é outro dia, mesmo com uma vida inteira de tantos aprendizados, minha casa é uma cópia fake da casa da minha mãe, bagunça, gambiarras, um projeto em eterna construção, casa arrumanda e organizada nunca foi uma prioridade ou mesmo algo que saberei administrar.
Acordar cedo, praticar Yoga e começar o dia. Dois mil e vinte cinco tem sido um ano surpreendente, tantos projetos que sempre procrastinei ...