sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Futuros Amantes

 FUTUROS AMANTES

CHICO BUARQUE

Não se afobe, não

Que nada é pra jáO amor não tem pressaEle pode esperar em silêncioNum fundo de armárioNa posta-restanteMilênios, milênios no ar
E quem sabe, entãoO Rio seráAlguma cidade submersaOs escafandristas virãoExplorar sua casaSeu quarto, suas coisasSua alma, desvãos
Sábios em vãoTentarão decifrarO eco de antigas palavrasFragmentos de cartas, poemasMentiras, retratosVestígios de estranha civilização
Não se afobe, nãoQue nada é pra jáAmores serão sempre amáveisFuturos amantes, quiçáSe amarão sem saberCom o amor que eu um diaDeixei pra você
Não se afobe, nãoQue nada é pra jáAmores serão sempre amáveisFuturos amantes, quiçáSe amarão sem saberCom o amor que eu um diaDeixei pra você
Saudades do Paraíso, Barra de Mamanguape, do seu Rio, do seu Mar, do seu silêncio, dos seus aconchegos, dos seus amores....
Como paralisar aquelas imagens, aqueles toques, aqueles devaneios, como saciar tanta fome?
Em um futuro, quem saberá?
Existe tanta cumplicidade em nossos silêncios, não tinha ideia como seria romper tanto silêncio e nada foi preciso, tão fácil e simples como a água que corria do mar até o rio, sem barreiras, sem complicações, natural como tudo por lá.
Aquele ceú que nos protegia, toda aquela água que nos abraçava, nem todas aquelas milhares de palavras proferidas não rompiam tantos silêncios.
Tudo era riso naquele rio, tudo era pele naquele sol,  tudo era vida naquele calor, tudo era prazer naquele sal, era tudo que tinhamos.
Não mergulhamos no mesmo rio, quanta água passou por nós dois, mas mergulhamos de novo e tinha muito mais vontade, éramos os mesmos e estavámos tão melhor, mais disponíveis e felizes. 

Já somos futuro e como qualquer outro futuro, incerto, desejável e que não para de acreditar.

Te aguardo em um futuro, que espero próximo, em algum lugar deste planeta.

Espero que você Apareça, Aparicio.



segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Quero não, obrigada!

Detesto menstruar e acredito que de todas as condições que nós impõe como condição de ser mulher, esta é a pior.

Hoje consigo analisar a Sara menina, adoslescente, adulta, coroa como personagens que compõem a mulher que sou hoje, posso até me assistir como em um filme, a criança que menstruou aos  11 anos de idade, antes da irmã mais velha e das primas mais velhas, arrodeada de amiguinhas que mal começavam a desenvolver e os meus seios já chegavam sem pedir licença, foi bem traumatizante, os inchaços, TPM, comentários e tudo aquilo tão desagradável, sem falar daquele rio de sangue que escorria entre as pernas sem nenhum controle, sem pedir licença e saia sujando tudo.

Antes, durante, dias intermináveis.

Antes: a displásia mámaria, dois quilos a mais, angústia, uma panela prestes a explodir, irritação.

Durante: seis dias de muito fluxo, odores fortes, cólicas fortes e os maiores modess que tinham no mercado pra conter aquela vazão, não era lindo, não.

A lua, a mulher, a natureza, o sagrado feminino nada me convencia.

Então, se fosse necessário me desconectar com meu sagrado feminimo, pra acabar com aqueles eternos dias de desconforto e nenhuma vontade de engravidar, tudo bem, viva a ciência, os anteconcepcionais, o DIU e qualquer coisa que parasse com aquilo.

Talvez a criança que se sentia rejeitada pela mãe, encarnações anteriores, carmas mal resolvidos, falta de amor entre meus pais, ausência de amores seguros e que me permitissem romantizar, sei lá, a única certeza que tinha é que não me fazia falta alguma menstruar e ter filhos não era uma vontade que me acompanhava.

Medo da solidão no futuro? Sim, tenho.

Medo de criar e educar filhos? Não.

Vontade? Nenhuma. 

Meu eu mulher negligenciado ou desrespeitado? Talvez o tempo responda.

Hoje sei o quanto vivi na ferida da rejeição, fugindo de tudo que pudesse me causar dor e grandes sofrimentos, processos mentais tão fortes e intrínsecos quanto respirar, 

O que me define como mulher feminina, sagrada, conectada com a natureza e com meu eu mais íntimo?

São tantos traumas, crenças limitantes, desejos frustrados, tantos lugares que não me cabiam e até hoje não cabem, caixinha que me enquadram, e o tempo que escorre entre as mãos, e, uma vida só pra resolver todas estas questões.

Talvez não me cabia resolver ou aceitar, preciso vivenciar coisas que minha alma feminina almeja, desejar sem medos ou enquadramentos, livre das crenças e traumas, deixando os desejos, os amores, a maternidade, a paternidade que existam em mim se manifestarem.

Sempre foi sobre nosso potencial criativo, que só se realiza na desconstrução de tantos padrões que só limitam e frustram.



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Quem não quer ser FERNANDA YOUNG?

 

 O que faz o bom escritor, senão transformar emoções em palavras? Quem mais poderia traduzir as dores, as alegrias, o dia, o mês, o ano, a decada, a vida e transformá-las em música, filmes, pinturas, poesias, prosas, versos?.
                                                          E quem melhor traduziu toda a louca, contradição e o politicamente incorreto que fizeram dos anos 90 e 2000 os anos mais caóticos e criativos que já se tem notícias, ela, FERNANDA YOUNG.
                                                         Que delícia assistir Foge-me ao controle, um documentário sobre a obra e vida de Fernanda, reafirmando sua escrita densa, séria e ou mesmo tempo tão cortante e divertida, uma mulher admirável, principalmente, por fugir de todos os padrões, a escritora compulsiva, que de tudo e de todos tirou profundas e divertidas observações. 



quarta-feira, 9 de outubro de 2024

TUDO É RIO


 E correnteza abaixo, fui tomada de paixão pela leitura de Carla Madeira, em TUDO É RIO, sem pudor fui tomada de uma inveja infantil de quem quer ser a outra e ter todo aquele talento em mim, escrever com tanta beleza e humanidade, entender o outro como seres feridos e perdoáveis, apesar de seus pecados imperdoáveis, ter tamanha empatia com qualquer  que seja o ser humano.

De lá pra cá a escrita tem sido um suspiro de vida e esperança em mim, a esperança de aprender a amar, a vontade gigante de ser melhor e ser mais, de escutar minha alma nas suas mais profundas inquietações e transformá-las em arte.

Tomada pela sensibilidade na construção dos personagens revivi meus amores esquecidos, meus arquivos sentimentais, a lembrança daquela menina que brigava com moinhos de ventos pra não ser atropelada pelas paixões desenfreadas, que chegavam sem aviso prévio. 

Este é o poder da arte, o de nós arrastar nas suas correntezas, de nos lembrar o quanto somos falhos, pequenos, egoístas e mesquinho quando tratamos do amor da carne, da posse, do desejo. Querer e ser querido, desejar ser desejado para além de tudo que já somos e temos, na esperança desenfreada de ser mais, de ser feliz apesar de tudo.

Carla nos lembra que o amor não nos protege, não tem fim por si só e como tudo na vida tem seu lado bom e ruim, sagrado e pecador e são poucos os que pagam o preço pra vivé-lo.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

03/04/2024 às 23:56

 Entrei no tunel do tempo literalmente, daqui a três minutos será um outro dia e estou eu aqui, com a pia cheia de pratos sujos, as compras desnecessárias jogadas na mesa da sala, enquanto eu tento trabalhar, assistir novamente a série da HBO, SEX AND CITY e não tiro meu ex de 2006 da cabeça, depois de ter cedido aos 18 anos de resistência aos seus apelos, e acreditem, foi incrível como nos velhos tempos.

Vamos por parte: Incrível como a série Sex and City consegue ser tão atual e falar tão diretamente sobre meus dilemas e dramas de mulher solteira a procura. Mulheres lindas, ricas, que vivem em Nova York, escritora, advogada, marchant, promotora de eventos que se envolvem em tantas roubadas amorosas, como qualquer outra mulher do mundo, acho eu que na China ou no Paquistão, role estas mesmas merdas. Vou me ater a falar sobre uma garota de origem humilde, do interior da Paraíba, que depois de muitos perrengues vai morar na Capital, conseguiu melhorar seu padrão financeiro e físico, estudou, se cuidou, viajou, e como as garotas da TV se meteu em trilhões de roubadas. 

É, elas são culpadas pelas suas vidas amorosas fracassadas, com homens fracos, neuróticos e perebentos como bem classifica a querida e sábia Valeska Zanello, no seu livro a Prateleira do Amor, é, realmente, uma procura insana, louca e que precisamos contar com sorte, destino e todo nosso conhecimento zodiacal, e acredito que seja a melhor opção, não consigo nem imaginar "por enquanto" de desistir deste sonho maluco de encontrar um homem pra amar, viajar e dividir as contas do mês. 


Somos culpadas por repetir padrões milenares de idealizações fudidas de amor? Somos culpadas por esta biologia maluca, que faz com que carreguemos no meio das pernas uma bomba nuclear que explode cada vez que nos apaixonamos ou sentimos tesão, ou sei lá, quando estamos carentes? Somos culpadas se todos as coisas no mundo nos reportam a uma cena romantica onde encontraremos alguém legal e viajaremos o mundo, e ele estará ao nosso lado pra vê a cada mês a lua crescente de frente ao mar, e que nos surpreenderá com mimos e presentes que vão lembrar o quanto somos especiais, não dá pra fugir, as mensagens estão por todos os lugares, todos. 


Sim, repetimos padrões, por isto falei da minha casa neste momento, que já é outro dia, mesmo com uma vida inteira de tantos aprendizados, minha casa é uma cópia fake da casa da minha mãe,  bagunça, gambiarras, um projeto em eterna construção, casa arrumanda e organizada nunca foi uma prioridade ou mesmo algo que saberei administrar.

Namaste

 Acordar cedo, praticar Yoga e começar o dia. Dois mil e vinte cinco tem sido um ano surpreendente, tantos projetos que sempre procrastinei ...