Agora parece impossível lembrar de vc antes daquela noite, quantas vezes vc passou por mim, sempre tão educado e contido, tão adoravelmente oposto a tudo que sou, tudo em você parecia estar no seu devido lugar, enquanto eu nadava num mar de caos, tentando colocar as coisas nos seus lugares, lembro qdo ouvi seu nome pela primeira vez, por fim conhecia um Érico, e que cabia tão bem na imagem que tinha de Eugênio, olhando os lírios no campo, e até mesmo a imagem que tinha do próprio, Érico Veríssimo, lembro de perguntar a tua irmã se seu pai era um grande leitor e se homenageou o escritor pra te dar nome tão lindo, mas não lembro qual foi a resposta.
Em tantos anos de convivência cordial e indiferente, não lembro de vê você sorrindo, até um ano atrás, quando me chamou pra dançar e num susto percebi que me olhava diferente, vc não tem ideia o tanto de surpresa isto me causou, a ideia de beijá-lo me pareceu absurda e resisti, vontade não faltou, após a bebedeira o ano se passou igual a todos os outros, uma convivência educada e agradável, sem nenhuma surpresa de tudo que já conhecia.
E o dia chegou, iríamos comemorar mais um ano de trabalho e convivência pacífica, do nada fui tomada pela curiosidade, será que ele vai sorrir pra mim de novo, e quando vc chegou, a festa começou, eu não estava mais sozinha, e ficou claro que vc também esperava algo daquele dia, e assim se fez , sorrisos, olhares, desejos e aquele medo delicioso de querer se aventurar.
A tarde passou rápido e a vontade era de que aquele dia não acabasse, que aquela festa entrasse noite a dentro e fosse infinita, enfim saímos festa a fora, até ficarmos sozinhos sem mais ninguém, um desconforto tremendo tentando racionalizar o desejo, que só crescia.
E nossos lábios se entreabriram, começava um beijo sem fim, a vontade de comer, como se nunca tivesse beijado assim e paramos de resistir, deixando a magia agir, entre músicas, palavras, peles, cheiros, lençóis atravessamos a noite, me entreguei como se fosse a primeira e última vez, pequenas e grandes mortes, renascimentos e reconhecimentos.
Não lembro mais quem era você e muito menos quem eu era.
Fotografei cada detalhe daquele dia único, já faz uns dias sem notícias e a cada dia a foto fica um pouco embassada, desfocada, desejando reviver tudo novamente, tentando sobreviver a sua falta de disponibilidade.
Mas não importa, fui anjo por uma noite eterna e aceito a minha mortalidade ao amanhecer.
E brindo a este presente, tão já passado e sem promessas de futuro.
Hoje só palavras escondidas num blog desconhecido sobre as lembranças de uma noite eterna.
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